quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Her inner Sylvia

Olhou à volta e não encontrou resquícios. Nada que denunciasse que, naquela sala, ela escrevera usando a sua voz secreta, essa voz de gaivota revolta que ninguém lhe conhecia. Tudo cumpria a desordem aceite num amanhecer de um dia de trabalho. Tudo estava intacto. Tudo estava inteiro.
Até o relógio - jurava ela.
Arrumou o caderno na estante, na secção das biografias, deixou a caneta suspensa do decote da camisa de noite branca. Afinal, tudo estava bem. Porque, eventuais manchas de tinta azul nos tecidos brancos, camisa de noite ou lençóis, existindo, suscitariam apenas o comentário, quase complacente "és doida", nada mais. E o que é escutar isso comparado com o prazer de sentir a caneta tocar-lhe no coração?

1 comentário:

Um Jeito Manso disse...

Mas que coisa...! Que maravilha. Apetece ler várias vezes o que aqui está escrito.

E se assim escreveu pela noite dentro e à mão, não no computador, então, fico com pena de não poder ler. Que palavras maravilhosas as suas, Leonor.